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Cabeça gigante de santo Antônio da cidade de Caridade, no Ceará, vai virar filme brasileiro; conheça a história

Romance da autora Socorro Acioli se baseia em estátua de Santo Antônio que ficou incompleta em Caridade. Por causa do calor, longa vai precisar construir cabeça cenográfica.

Cabeça gigante de santo Antônio da cidade de Caridade, no Ceará, vai virar filme brasileiro; conheça a história
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São quase 40 anos de um Santo Antônio fragmentado no sertão central do Ceará. O corpo sem cabeça da estátua está no alto do morro no município de Caridade. A quase três quilômetros de distância, repousa a cabeça em meio às casas da rua Cento e Dois, no Conjunto Habitacional. A obra que nunca deu certo virou história de repercussão internacional e vai parar no cinema.

O projeto da estátua de Santo Antônio no pico do morro começou em 1984, e a ideia do então prefeito, Raul Linhares, era atrair o turismo religioso para a cidade, seguindo os passos da vizinha Canindé. Porém, a obra parou em 1986 por falta de recursos. E a cabeça, montada no chão, nunca foi levada até o corpo.

Em Caridade, há quem explique que ela ficou muito pesada e que não poderia subir o Morro do Serrote devido aos ventos fortes.

O que se sabe é que, até hoje, a cabeça faz as vezes de muro na casa de número 25, onde morava o engenheiro da obra. A estrutura foi montada ali com a ajuda de outros moradores. E virou uma lenda da cidade, tendo abrigado até mesmo um homem que morou lá dentro.

Em Caridade, a cabeça da antiga estátua de Santo Antônio fica parte na rua, parte na área da casa onde foi montada. — Foto: Cadu Freitas/SVM

Ao reler esse detalhe em um recorte de jornal, a escritora cearense Socorro Acioli encontrou o que procurava: uma ideia original para um novo projeto de ficção.

"Foi a história que eu mais senti força das que eu tinha copiado e colado (em recortes de jornais). Era essa da cabeça do santo porque eu sabia que eu tinha ali muitos personagens para aparecer e possibilidades de desenvolvimento", contou a escritora ao g1.

Em menos de dois dias, Socorro esboçou a história de um homem que morava dentro da cabeça abandonada do Santo Antônio. Foi com essa ideia que ela conseguiu ser a única brasileira aceita para participar da oficina de criação orientada pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez. O curso foi realizado em Cuba, no ano de 2006.

Antes disso, a autora tinha vivências pelo interior do Ceará, principalmente por ter família na região do Cariri. Mas era apenas pelas reportagens locais que Socorro conhecia a história do santo sem cabeça no Sertão Central.

 

"Na semana anterior à viagem, eu recebi um convite para dar uma palestra em Tauá, e eu disse que iria com a condição de parar em Caridade. E aí eu parei e filmei porque eu queria ver a cabeça, ver as proporções, o tamanho real. E eu nem sabia que eu ia precisar dessa filmagem quando eu chegasse lá na oficina. Porque ele (Gabriel García Márquez) pediu para ver. Ele não acreditou que era verdade, achou que eu estava confundindo as coisas e pediu para ver", detalha a autora.
Parte mais antiga da estrutura de Santo Antônio tinha 19 metros e foi cortada para abrigar um museu. — Foto: Divulgação/SOP

A partir da existência da cabeça abandonada, Socorro Acioli desenvolveu uma história original, com uma trama que criou sem procurar reproduzir o que aconteceu na cidade.

Lançado como romance em 2014 e já traduzido para o inglês e o francês, o livro "A Cabeça do Santo" traz o personagem Samuel como um jovem que chega à fictícia cidade de Candeia em busca do pai que nunca conheceu.

Sem ter onde dormir, Samuel encontra abrigo na cabeça da estátua. Ele não sabe que, estando ali, vai conseguir escutar as mulheres da cidade fazendo preces de amor para Santo Antônio, o santo casamenteiro.

A história fez sucesso nacional e internacional. E vai virar filme. O roteiro do longa está sendo trabalhado, e as gravações podem ser realizadas na cidade de Caridade.

 

Enquanto isso, nova estátua é construída na cidade

 

Em Caridade, as obras do Monumento de Santo Antônio devem trazer um novo complexo religioso. — Foto: Governo do Ceará/Divulgação

Desde 2021, Caridade vive uma nova tentativa de homenagear Santo Antônio. Desta vez, o Governo do Ceará anunciou a construção de um complexo religioso no Serrote do Cágado, o ponto mais alto da cidade.

O projeto do Monumento de Santo Antônio deve trazer uma nova estátua com 36 metros de altura. O lugar deve ter, ainda, um museu, um mirante, uma capela, pontos comerciais, escadarias, rampas de acesso e estacionamento.

Por enquanto, os moradores da cidade seguem à espera de um santo completo. A previsão inicial de entrega era maio de 2022. Segundo a Superintendência de Obras Públicas, as obras do monumento estão com 50% de execução. A nova previsão é que o complexo fique pronto em 2024.

A pasta informa que partes da escultura da cabeça do santo e do revestimento da estátua são feitas em parceria com a Prefeitura de Caridade, que entrou com investimento municipal de cerca de R$ 350 mil. Por conta do Governo do Ceará, o investimento passa de R$ 7,86 milhões.

 

O filme vai precisar de uma cabeça cenográfica

 

Socorro Acioli foi entrevistada pela equipe do Fantástico dentro da cabeça do santo, em Caridade — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Os direitos autorais para adaptar "A Cabeça do Santo" como filme foram vendidos para a produtora Joana Mariani, que assumirá a direção do longa. Quem fez a primeira versão do roteiro foi a cearense Natália Maia, que também foi uma das roteiristas do premiado longa-metragem cearense "Pacarrete", de Allan Deberton.

Como detalha Socorro, o filme não deve ficar pronto antes de 2024. Isso porque o projeto ainda precisa passar por fases importantes, como financiamento, definição do elenco e início das gravações. O diálogo foi iniciado com a Prefeitura de Caridade para possíveis filmagens no município.

O que ela adianta é que a produção vai precisar construir uma cabeça do santo cenográfica. Quando Socorro esteve dentro da cabeça real para gravar uma entrevista para o Fantástico, o calor intenso mostrou que será impossível ficar no lugar por várias horas com equipes de produção e atores.

Outro fator é a diferença da ambientação real para a do livro: na história de Socorro, a cabeça do santo fica em uma parte isolada da cidade. Não é o caso real em Caridade, com a estrutura no meio de uma rua com várias casas.

A direção e o roteiro do filme ainda precisarão definir se outras cidades cearenses estarão na filmagem.

A riqueza do Ceará nas histórias

 

O próximo livro de Socorro Acioli faz alusão à igreja que já ficou enterrada em uma duna, em Itarema — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Lançando livros desde 2001, Socorro Acioli já passeou por gêneros diversos, incluindo a escrita de biografias, histórias para o público infantojuvenil e romances. "A Cabeça do Santo" é um dos títulos de sua obra que se destacam por trazer elementos da religiosidade popular, das lendas locais e das referências às cidades cearenses.

Outro exemplo de história tecida a partir das narrativas únicas do Ceará é "A Bailarina Fantasma", lançado em 2010. Nela, Socorro parte de uma lenda conhecida entre os moradores de Fortaleza: a de que o espírito de uma bailarina costuma aparecer no Theatro José de Alencar, no centro da cidade.

A escritora explica que encontra as histórias e os lugares reais de diversas formas. E que resolve trazer para a ficção aquelas que despertam suas emoções.

 

"São temas que me emocionam justamente porque têm a ver com a minha vida, com a vida da minha família. As minhas famílias, de pai e de mãe, são todas de cidades pequenas do interior, de lugares diferentes do Nordeste, mas que vieram parar aqui (no Ceará). Então essa religiosidade popular, que tem a ver também com a nossa história de escassez, de seca, é também de uma beleza imagética muito grande. É isso que eu acho mais importante do que o aspecto mais trágico da pobreza", conta Socorro.

 

A escritora cearense Socorro Acioli publicou livros de gêneros diversos, como biografias, romances e histórias infantis — Foto: Jarbas Oliveira/ÉPOCA

O casamento do inusitado com o sagrado segue presente no romance mais recente da autora. Para escrever "Oração para desaparecer", ela encontrou inspiração em mais um cenário real do Ceará: a pequena igreja da comunidade de Almofala, na cidade de Itarema, que já foi soterrada pelas dunas.

Ela conta que, neste caso, recebeu a ideia de uma colega de faculdade, que visitava uma exposição de fotografias históricas organizada pelo professor e pesquisador Gilmar de Carvalho. Foi quando ficou sabendo da história do templo dedicado à Nossa Senhora da Conceição, invadido pelas areias em 1897 e ressurgiu na década de 1940.

"Ela viu a famosa foto da igreja com a areia pela metade. Ela me ligou e disse que eu tinha que ver essa história porque ela tinha achado a minha cara", recorda a escritora.

Foram sete anos de pesquisas e experiências para a construção da história. Nela, existe uma conexão entre a Almofala do Ceará e a localidade de Almofala, situada na fronteira entre Portugal e Espanha. O romance explora a mística dos povos tremembés e suas ligações com a fé, os costumes e vivências em terras cearenses.

 

"Eu não escrevo sobre esses temas porque a minha intenção é divulgar o Nordeste, como se o Nordeste precisasse de divulgação, não é? É o contrário: eu é que preciso do Ceará e das histórias do Ceará para fazer literatura. Não é uma intenção de divulgar. Eu estou é usufruindo de uma riqueza que já é nossa", conclui.

"Oração para Desaparecer" está disponível em edição exclusiva para os membros do clube TAG Experiências Literárias. As vendas para quem não é assinante do clube começam em outubro.

A obra será lançada com edição da Companhia das Letras no dia 11 de novembro, em evento a ser realizado no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza.

FONTE/CRÉDITOS:  g1.
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